segunda-feira, 26 de outubro de 2015

     A REFORMA LUTERANA E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA O MUNDO RELIGIOSO





Costuma-se mencionar o dia 31 de outubro de 1517 como data de nascimento da Reforma.
Martinho Lutero viria a publicar 95 teses ( fixadas á porta da igreja do Castelo de Wittenberg, na Alemanha) por ocasião da vigília do dia de Todos os santos e do Dia de finados, momento propício em que numerosos cristãos manifestavam seu desejo de obter indulgencias  ( remissão das penas correspondentes ao pecado ) para seus mortos. ¨ Lamentavelmente, em consequência das incompreensões e das violências, essa Reforma provoca o estilhaçamento da Igreja do Ocidente¨ ( COMBY, 2001, P. 7). Portanto, não é uma data da qual os cristãos devam se orgulhar, pois as divisões que resultaram do movimento reformador ferem o desejo expresso por Jesus Cristo, para ¨ que  todos sejam um ¨ ( JO 17, 21 ). Apesar de que as divisões que se observam no cenário religioso de hoje não sejam mais vistas como algo negativo, porém, as consequências delas constituíram verdadeiras barreiras que separam as Igrejas ( Católica e Ortodoxa ) e comunidades eclesiais ( protestantismo ) cristãs.
Até o século XVI o cristianismo manteve uma trajetória sem maiores acontecimentos, a não ser as pequenas cisões nos primeiros séculos ( quando então se firmava as reflexões teológicas sobre as mensagens bíblicas, sobretudo do Novo Testamento ) e também a divisão do catolicismo, nas duas modalidades :
Oriental e Ocidental, ocorrida no século XI, em 1054. Tudo viria a mudar com aquilo que ficou conhecido como Reforma Protestante, cujo fundador foi Martinho Lutero ( 1483-1546 ). Vale lembrar que esse movimento reformista foi um de vários movimentos que irromperam no velho continente, desde os séculos XIII, com destaque para o movimento educacional, que fomentou o surgimento de diversas universidades.
O que levou esse monge agostiniano, pesquisador leal e circunspecto, professor de teologia da Universidade de Wittenberg ( Alemanha ), a se rebelar contra a Igreja Católica? voltando sobre si mesmo, com tendencias depressivas, Lutero foi movido por uma ansiedade pessoal, de ordem religiosa e psicológica ligada á salvação ( CARTER , 2001).
Lutero sentia que não merecia ser salvo.
Porém, em 1513, teve uma intuição espiritual conforme a qual o que nos qualifica para a salvação é a nossa fé no amor de Deus e que as boas ações são secundárias. Ou seja, a fé sem obras.
Segundo seu pensamento, ¨ o homem é um vaso cheio de pecados, salvo apenas por estar envolvido pelo amor de Deus¨.
Insatisfeito pela falta de impacto pela nova visão que passou a pregar, Lutero dá início a uma campanha contra a venda de indulgencias ( á época, uma prática que se dava em larga escala), com preço certo, que consistia na promessa de redenção do purgatório. Lutero teve como um de seus principais argumentos a afirmação de que o papa não tinha a possibilidade de controlar as almas no purgatório ( KEELER, 2007, P. 50 ).
Além de instituir o conceito de salvação somente pela fé, isenta das obras, outros princípios teológicos de Lutero foram fundamentais para a maioria das denominações protestantes, que vieram a se formar a partir da Reforma.
Destacamos alguns desses princípios :
Um único texto sagrado - ¨ Sola scriptura ¨. A Bíblia ( com sete livros a menos do que a versão aceita pela Igreja Católica ) era a única fonte infalível e estatuto da fé, devendo sua interpretação ser livre; o sacerdócio universal dos fiéis - o relacionamento com Deus sem a mediação do clero. Lutero defendia que nem o papa e nem a hierarquia da Igreja teria autoridade divina mais do que um cristão comum; a pregação da palavra Divina - é responsabilidade básica do ministro pregar a mensagem bíblica, a fim de melhor alcançar o seu público; a celebração litúrgica - que se resume a uma exegese ( explicação e análise ) das Escrituras deveria ser feita na língua nativa ( e não no Latim) ( KEELER, 2007, P. 51 ).
O movimento iniciado por Lutero viria a se espalhar rapidamente pela Europa, dando surgimento ás igrejas que formaram o que hoje conhecemos como ¨ protestantismo histórico ¨. Além de Lutero, outros reformadores ganharam destaque : João Calvino (1509-1564) que, após reunir as crenças de Lutero, enviou missionários por toda a Europa, a fim de pregar e organizar as comunidade. Países como Suíça, Escócia, parte da França e da Holanda, tornaram-se calvinistas.
Também deve ser mencionado Zwinglio ( 1484-1531 ). Enquanto Cura de Zurique, ele foi responsável por submeter a cidade suíça á Reforma, promovendo uma secularização dos conventos, da liturgia em alemão, da destruição de imagens sacras. Graças a Calvino, Zwinglio, o próprio Lutero e outros reformadores, metade de toda a Europa tornou-se protestante, ao término da intensiva pregação das novas ideias do líder da Reforma ( KEELER, 2007, P. 51).
Segundo Jean Comby ( 2001, p. 14 ), nos dias de hoje Lutero é considerado um homem de fé,  movido por objetivos verdadeiramente religiosos. Nenhum católico põe em dúvida as deficiências e incompreensões da Igreja romana naquele tempo. Por seu lado, os protestantes admitem as limitações de Lutero, marcada pela violência, intransigência e certa inclinação para a bebida. De qualquer modo, a Reforma provocou uma profunda cisão no Cristianismo, fazendo com que a partir de então passasse a ter um Cristianismo Católico e um Cristianismo Protestante, iniciando-se, assim, uma longa e triste história de divisão. Imediatamente após as rupturas, ¨ as comunidades cristãs empregaram seus modos particulares de excomunhão. O anátema veio substitutir o perdão, o isolamento mútuo toma o lugar do encontro e a polemica se impõe sobre as tímidas tentativas do diálogo¨
( NAVARRO, 1995, p. 95).







Tudo isso se tornou muito negativo, constituindo-se um contratestemunho cristão frente ao mundo a ser evangelizado. Não podemos anunciar ao mundo um Cristo católico e um Cristo protestante, como se Ele fosse dividido.
Devemos sim, anunciar um Cristo que não é exclusividade de determinada igreja ou comunidade eclesial, mas que é para todos. Afinal, a salvação por Ele oferecida tem um caráter universal, não se restringindo somente ao Cristianismo.
Em razão disso, num ambiente de diálogo ecumênico, que visa não a superação das divisões que surgiram após a reforma, mas suas conseguencias, a nossa Igreja Católica, motivada que é pela abertura dada pelo Concílio Vaticano II, se abre ao diálogo  com os irmãos separados, numa atitude mútua de perdão, de acolhimento e valorização do outro, em vista a abater os muros da separação, para que, finalmente, ¨ todos sejam um¨, assim como desejou Jesus, na sua oração sacerdotal ao Pai ( JO 17, 21),
lembrando que, nas palavras do Santo Padre João Paulo II, ¨ aquilo que nos une é Maior do que o que nos separa¨.





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