( QUARTA E ÚLTIMA PARTE )
AO MESMO TEMPO, ESPERANÇA
Não devemos encarar a morte como algo estritamente trágico, um drama para o qual não há solução, mas, de acordo com a visualização da Igreja, como uma necessidade. Á maneira da semente que, segundo a expressão do Apóstolo, ¨ não recobra vida, sem antes morrer ¨ ( 1 COR 15, 36 ), é preciso que em determinado momento o corpo repouse, á espera da ressurreição. Se Jesus mesmo não tivesse morrido, o que seria de nós?
OS EFEITOS DA REDENÇÃO
São Paulo, quiça recebido uma revelação de Nosso Senhor, escreveu : ¨ toda a criação geme e sofre como que em dores de parto até o presente dia ¨ ( RM 8, 22 ) para ser ¨ libertada do cativeiro da corrupção ¨ ( RM 8, 21 ), através dos benefícios da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. De fato, a natureza foi marcada pelo pecado de Adão e ainda não teve acesso, inteiramente, aos efeitos da Redenção, porque estes estão retidos á espera do Juízo Final.
Os teólogos, em especial São Tomás de Aquino, comentam que no dia do julgamento, depois da ressurreição dos corpos, as mãos de Deus se abrirão e toda a natureza se rejubilará pelos frutos da Redenção. Por exemplo, a Lua vai brilhar com mais claridade do que antes do pecado original, e o Sol adquirirá maior fulgor, deitando sobre a Terra uma luminosidade especial. Dado que a criatura humana é um microcosmos, a razão mais profunda desta restauração está no fato de se encontrarem reunidos em Jesus-Homem todos os planos da criação, como verdadeira síntese do universo, n'Ele elevada a um grau altíssimo. É preciso, pois, que a matéria que Ele assumiu, ao Se encarnar, seja glorificada.
ESPERANÇA DA RESSURREIÇÃO
Se a própria natureza está gemendo á espera desse dia, porque não devemos gemer também nós? Pois, embora já gozemos, por meio dos Sacramentos, de uma parcela dos efeitos da Redenção que é a vida sobrenatural - ¨ as primícias do Espirito ¨ ( RM 8, 23a) de que nos fala o Apóstolo -, aguardamos ¨ a adoção , a redenção do nosso corpo ¨ ( RM 8, 23b ). Peregrinos neste vale de lágrimas, longe da pátria verdadeira, a todo momento nos sobrevém a tentação, provação e a angústia, e muitas vezes nos perguntamos : ¨ Quando iremos ? ¨. Sabemos que, da mesma forma que a alma, nosso corpo foi plasmado por Deus com vistas a durar eternamente, livre das contingencias -doenças, sono, fome, limitações - que nosso atual estado comporta, conforme reza o Prefácio para os Fiéis Defuntos : ¨ desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado, nos Céus, um corpo imperecível¨.
Em uma das numerosas leituras a serem escolhidas para esta comemoração, São Paulo usa uma imagem muito realista, comparando o corpo a uma tenda ( CF. II COR 5, 1.6 - 10 ), como as que tinha de fabricar para seu próprio sustento ( CF. AT 18, 3). Exorta a não nos preocuparmos se esta for destruída, porque Deus nos dará outra muito melhor ( CF. II COR 5, 1 ). Como incansável apóstolo da Ressurreição, escreve também em sua Primeira Carta aos Corintios : ¨ Semeado na corrupção, o corpo ressuscita incorruptível; semeado no desprezo, ressuscita glorioso; semeado na fraqueza, ressuscita vigoroso; semeado corpo animal, ressuscita corpo espiritual ¨ ( 15, 42 -44).
Com efeito, o corpo glorioso gozará de quatro qualidades, a saber : claridade, impassibilidade, agilidade e sutileza. É-nos permitido conjecturar que, graças a elas, o corpo poderá fazer-se imperceptível no lugar em que quiser, passar através das substancias sólidas, deslocar-se como lhe aprouver á velocidade do pensamento...
Além disso, não necessitará do concurso de um alfaiate para se vestir, pois a roupa será trabalhada pela própria imaginação, que terá equilíbrio perfeito, sem as loucuras decorrentes do pecado.
A esperança de recuperar o corpo deve alimentar nossa existência, dando-nos forças para abandonar um prazer fugaz e ilícito, para evitar o pecado e praticar a virtude, porque seremos altamente recompensados no dia da ressurreição da carne. Então assistiremos, com estes mesmo olhos com que agora vemos, ao esplendor da criação renovada.
Assim, embora o Dia de Finados seja marcado com uma nota de tristeza pela ausência de quem já partiu, é com alegria que rezamos por eles, se nos pusermos diante da perspectiva apresentada pela Igreja ; atravessados os trágicos umbrais da morte, todos nos encontraremos no outro lado, num convívio de intimidade e júbilo extraordinários, até retomarmos o corpo em estado de glória, com a ressurreição.
Peçamos a Nossa Senhora da Boa Morte, bem como aos santos e aos anjos, que nos ajudem e obtenham o favor de morrer na plenitude da graça que nos cabe, na plenitude da nossa perfeição de alma e de vida espiritual, de modo a nem sequer conhecer o Purgatório.

( FONTE : ARTIGO DO MONSENHOR JOÃO SCOGNAMIGLIO CLÁ DIAS, EP DA REVISTA ARAUTOS DO EVANGELHO. )
QUERIDOS IRMÃOS E IRMÃS QUE JAMAIS NOS ESQUEÇAMOS DE REZAR PELA ALMAS DO PURGATÓRIO, DAS QUAIS MUITOS NÃO SE RECORDAM, PARA QUE ALCANCEM A PLENITUDE DA GRAÇA, QUE CONTEMPLEM A FACE GLORIOSA DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, POR TODA A ETERNIDADE.
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